quarta-feira, 13 de março de 2013

Construindo um mundo melhor

Honra, integridade, lealdade, amizade, cortesia, respeito e proteção da natureza. Responsabilidade, disciplina, coragem, ânimo, bom-senso, respeito pela propriedade e autoconfiança. Esses são alguns dos valores que norteiam a política social de um grupo capaz de mobilizar milhões de pessoas em todo o mundo. Quando a Lei Escoteira foi idealizada, em meados de 1907, não havia leis proibitivas, mas sim conceitos para a formação de pessoas boas.
E esses conceitos vêm durando até hoje. De acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, um dos significados dado à palavra ‘escoteiro’ é “membro de uma associação escotista”. No mesmo dicionário, outra aplicação para uso da palavra: “aquele que viaja só, sem ou com pouca bagagem”. Para algumas pessoas, as duas definições podem soar contraditórias, já que o uso da palavra ‘associação’ remete a uma congregação de pessoas e o adjetivo ‘só’ é aplicado no sentido de estar sozinho.
Entretanto, para o movimento Escotista, as duas definições se completam. É preciso ser só um – para se tornar uma pessoa com bons princípios – ao mesmo tempo em que é preciso ser membro de um grande grupo para conseguir construir um mundo melhor.  Assim, o jovem escoteiro tem como se autoanalisar, se espelhar em um grupo e se orientar.
Dentre as convicções do grupo, pode-se denominar os escoteiros como um movimento de jovens e para jovens, com a colaboração de adultos unidos por um compromisso livre e voluntário. Um movimento de educação não formal, que se preocupa com o desenvolvimento e com a educação permanente dos jovens, complementando o esforço da família, da escola e de outras instituições.
No Brasil, esse movimento começou a se expandir em 1910. No Rio Grande do Norte, em 1917. Perto de completar 100 anos em terras potiguares, a União dos Escoteiros do Brasil no RN (UEB/RN) quer cada vez mais conquistar novos seguidores. Recém eleito presidente para o triênio 2013-2015, Ivan Nascimento, escoteiro desde infância e professor de contabilidade, enxerga o movimento como uma contribuição para que crianças e jovens possam ter um complemento na educação formal.
“O Escotismo se espalhou rapidamente no mundo todo. Costumo dizer que é uma grande fraternidade de crianças e jovens voltados para educação. Mobilizamos os jovens dando conhecimento e educação na medida em que eles vão conhecendo suas potencialidades e limites para trabalhar em prol do mundo melhor. É cidadania pura que esse movimento representa”, afirmou Ivan Nascimento.
A criança pode entrar para o grupo de escoteiros a partir de sete anos, permanecendo no projeto educativo até os 21 anos. Todos os fundamentos, princípios e métodos educacionais são desenvolvidos nesse período, de acordo com a faixa etária. De sete aos 10 anos, as crianças são chamadas de Lobinhos – inspiração adquirida com a história do menino ‘Mogli’, fase em que a fantasia se mistura com os primeiros ensinamentos, com diversão e muita brincadeira.
De 11 a 14 anos são denominados escoteiros. De 15 a 17 são os sêniors (homens) e guias (Mulheres) e dos 18 aos 21 anos são chamados de pioneiros. “Para cada faixa-etária tem um projeto pedagógico específico com os interesses próprios de cada idade. Em todos os grupos há o papel de adultos voluntários, que semanalmente realizam trabalhos com cada público”, disse Ivan.
A maioria dos adultos envolvidos na missão não são escoteiros de formação, explica o presidente da UEB/RN. “Como a gente está trabalhando com um projeto em expansão, chegamos nos municípios do estado e realizamos um trabalho de mobilização de adultos que trabalharão diretamente com cada grupo de escoteiros. Temos a participação de pessoas que nunca tinham ouvido falar em escotismo”.
Escotismo nas Escolas
Um dos primeiros atos do atual governo estadual foi sancionar a lei que autoriza o funcionamento do Projeto Escotismo nas Escolas Estaduais, com o objetivo de implantar sua prática na rede estadual de ensino, cujas atividades são desenvolvidas dentro do Projeto Escola Aberta, sob orientação da União dos Escoteiros do Brasil. De acordo com a Lei No 9.453 (de 4 de fevereiro de 2011), para a realização das atividades inerentes ao movimento escoteiro é permitida a utilização das dependências escolares aos sábados, domingos e feriados.
O Projeto tem a participação voluntária dos alunos na faixa etária entre sete e 21 anos, permitindo a participação de pessoas da comunidade local, mesmo as que não pertencerem à instituição de ensino. As despesas decorrentes do projeto correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas pelo Executivo através da Secretaria Estadual de Educação (Seec).
“O convênio com a Secretaria de Educação ocorre como uma parceria. Nós mostramos o nosso projeto pedagógico complementar de educação e a Secretaria apontou o que esperava do nosso trabalho e em quais escolas deveríamos trabalhar inicialmente. Começamos com pouco mais de 30 escolas envolvidas, e depois o projeto passou a ser direcionado a criar pelo menos um grupo de escoteiro em cada município do Rio Grande do Norte”, disse Carlos Pinto, ex-presidente da UEB/RN, com seis anos de mandato.
As escolas são previamente escolhidas pela Secretaria de Educação. Após isso, funcionários da União dos Escoteiros, contratados pelo convênio, vão às escolas fazer a sensibilização do corpo gestor e do corpo docente para a criação da estrutura necessária para receber o grupo aos finais de semana.
Entretanto, Ivan Nascimento reforça que os escoteiros também se reúnem nos dias da semana, onde desenvolvem atividades sozinhos. “Eles fazem tudo o que um jovem faz. Mas o importante é que eles se juntam envolvidos por vários valores que são construídos ao longo da permanência deles no grupo de escoteiros. São valores de fraternidade, ajuda ao próximo, caráter, valores em querer sempre construir uma sociedade cada vez melhor”, apontou o atual presidente.
“Agindo sob esses valores, certamente as drogas e álcool não os atraem, preferindo estarem se divertindo como qualquer outra criança ou jovem”, reforçou. O Lenço dos Escoteiros, objeto utilizado em volta do pescoço é uma maneira de identificar alguma pessoa que atua no grupo. “Mas, no dia a dia, a maior marca do grupo que eles carregam são os valores”, disse.
No Rio Grande do Norte existem mais de 120 grupos de escoteiros espalhados por todo o estado, estando presente em 83 municípios com cerca de 10 mil crianças, jovens e adultos associados. Segundo lembrou Carlos Pinto, a importância do convênio com o Governo do Estado reflete no número de associados.
“Antes desse convênio com as escolas, o grupo tinha aproximadamente 1,3 mil associados. Hoje, com a chegada do projeto, aumentou o efetivo, e somos o movimento que mais cresce no Brasil”, disse. Pioneiro entre todos os estados do Brasil, o projeto Escotismo nas Escolas já está tendo representações em outras regiões do país. Além de alcance nas escolas públicas, o projeto também está sendo adotado por instituições particulares, como no Colégio das Neves, Henrique Castriciano e Contemporâneo.
“O Escotismo deve chegar a todas as classes sociais para que o jovem tenha a opção de lazer sadia, onde ele pode se autoeducar com as ferramentas que o nosso projeto pedagógico dispõe, como o campismo, jogos pedagógicos, atividades comunitárias, trilhas. Várias atividades desenvolvidas em grupo, como uma forma de combater o egoísmo e mostrar a necessidade de uma pessoa estar sempre precisando da outra”, disse Carlos.
Paara Ivan, o fato do Escotismo representar uma atividade complementar à educação já é um grande ganho para as escolas. “O poder público investe no Escotismo, o projeto chega às escolas – onde muitas vezes os alunos não participam de todas as atividades – e acaba motivando os jovens a serem mais participativos”, avaliou.

Necessidade de um espaço de atividades
Durante a entrevista concedida a O Jornal de Hoje, Ivan Nascimento lamentou o fato da União dos Escoteiros no estado ainda não possuir um espaço próprio para promoção de atividades do movimento. “Realizamos esse trabalho há 96 anos no Rio Grande do Norte e não temos um espaço nosso para promover as atividades nos finais de semana”, disse.
“Um presente que o ex-presidente Carlos Pinto deixou para a gente foi o Centro Escoteiro da Juventude. Um espaço de 20 hectares em Maxaranguape, onde realizaremos nosso sonho de ter um centro de atividades voltado para a juventude”, afirmou. Entretanto, a UEB/RN não tem como custear o pagamento do terreno, avaliado em R$ 300 mil, e a construção do espaço.
“Há muitos outros movimentos de jovens que atuam na sociedade, mas o diferencial do Escotismo é que tem objetividade, encontro fraternal com regras, limites, diversão e educação. Por isso venho lutando há tantos anos para garantir um local onde haja essa promoção saudável da juventude”, disse Carlos Pinto.
A União dos Escoteiros está conclamando os antigos escoteiros e as pessoas da sociedade que querem contribuir com trabalho do movimento para fazerem doações em prol da concretização do Centro. “Estamos precisando levantar um valor alto para pagar a área e por isso precisamos da ajuda dos amigos escoteiros”, afirmou o ex-presidente. Para realizar as doações, as pessoas podem depositar o dinheiro na Conta Corrente: 32573-2 | Agência: 3525-4 Banco do Brasil, titular União dos Escoteiros do Brasil.

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