Honra, integridade, lealdade, amizade, cortesia, respeito e proteção
da natureza. Responsabilidade, disciplina, coragem, ânimo, bom-senso,
respeito pela propriedade e autoconfiança. Esses são alguns dos valores
que norteiam a política social de um grupo capaz de mobilizar milhões de
pessoas em todo o mundo. Quando a Lei Escoteira foi idealizada, em
meados de 1907, não havia leis proibitivas, mas sim conceitos para a
formação de pessoas boas.
E esses conceitos vêm durando até hoje. De acordo com o dicionário
Priberam da Língua Portuguesa, um dos significados dado à palavra
‘escoteiro’ é “membro de uma associação escotista”. No mesmo dicionário,
outra aplicação para uso da palavra: “aquele que viaja só, sem ou com
pouca bagagem”. Para algumas pessoas, as duas definições podem soar
contraditórias, já que o uso da palavra ‘associação’ remete a uma
congregação de pessoas e o adjetivo ‘só’ é aplicado no sentido de estar
sozinho.
Entretanto, para o movimento Escotista, as duas definições se
completam. É preciso ser só um – para se tornar uma pessoa com bons
princípios – ao mesmo tempo em que é preciso ser membro de um grande
grupo para conseguir construir um mundo melhor. Assim, o jovem
escoteiro tem como se autoanalisar, se espelhar em um grupo e se
orientar.
Dentre as convicções do grupo, pode-se denominar os escoteiros como
um movimento de jovens e para jovens, com a colaboração de adultos
unidos por um compromisso livre e voluntário. Um movimento de educação
não formal, que se preocupa com o desenvolvimento e com a educação
permanente dos jovens, complementando o esforço da família, da escola e
de outras instituições.
No Brasil, esse movimento começou a se expandir em 1910. No Rio
Grande do Norte, em 1917. Perto de completar 100 anos em terras
potiguares, a União dos Escoteiros do Brasil no RN (UEB/RN) quer cada
vez mais conquistar novos seguidores. Recém eleito presidente para o
triênio 2013-2015, Ivan Nascimento, escoteiro desde infância e professor
de contabilidade, enxerga o movimento como uma contribuição para que
crianças e jovens possam ter um complemento na educação formal.
“O Escotismo se espalhou rapidamente no mundo todo. Costumo dizer que
é uma grande fraternidade de crianças e jovens voltados para educação.
Mobilizamos os jovens dando conhecimento e educação na medida em que
eles vão conhecendo suas potencialidades e limites para trabalhar em
prol do mundo melhor. É cidadania pura que esse movimento representa”,
afirmou Ivan Nascimento.
A criança pode entrar para o grupo de escoteiros a partir de sete
anos, permanecendo no projeto educativo até os 21 anos. Todos os
fundamentos, princípios e métodos educacionais são desenvolvidos nesse
período, de acordo com a faixa etária. De sete aos 10 anos, as crianças
são chamadas de Lobinhos – inspiração adquirida com a história do menino
‘Mogli’, fase em que a fantasia se mistura com os primeiros
ensinamentos, com diversão e muita brincadeira.
De 11 a 14 anos são denominados escoteiros. De 15 a 17 são os sêniors
(homens) e guias (Mulheres) e dos 18 aos 21 anos são chamados de
pioneiros. “Para cada faixa-etária tem um projeto pedagógico específico
com os interesses próprios de cada idade. Em todos os grupos há o papel
de adultos voluntários, que semanalmente realizam trabalhos com cada
público”, disse Ivan.
A maioria dos adultos envolvidos na missão não são escoteiros de
formação, explica o presidente da UEB/RN. “Como a gente está trabalhando
com um projeto em expansão, chegamos nos municípios do estado e
realizamos um trabalho de mobilização de adultos que trabalharão
diretamente com cada grupo de escoteiros. Temos a participação de
pessoas que nunca tinham ouvido falar em escotismo”.
Escotismo nas Escolas
Um dos primeiros atos do atual governo estadual foi sancionar a lei
que autoriza o funcionamento do Projeto Escotismo nas Escolas Estaduais,
com o objetivo de implantar sua prática na rede estadual de ensino,
cujas atividades são desenvolvidas dentro do Projeto Escola Aberta, sob
orientação da União dos Escoteiros do Brasil. De acordo com a Lei No
9.453 (de 4 de fevereiro de 2011), para a realização das atividades
inerentes ao movimento escoteiro é permitida a utilização das
dependências escolares aos sábados, domingos e feriados.
O Projeto tem a participação voluntária dos alunos na faixa etária
entre sete e 21 anos, permitindo a participação de pessoas da comunidade
local, mesmo as que não pertencerem à instituição de ensino. As
despesas decorrentes do projeto correrão por conta das dotações
orçamentárias próprias, suplementadas pelo Executivo através da
Secretaria Estadual de Educação (Seec).
“O convênio com a Secretaria de Educação ocorre como uma parceria.
Nós mostramos o nosso projeto pedagógico complementar de educação e a
Secretaria apontou o que esperava do nosso trabalho e em quais escolas
deveríamos trabalhar inicialmente. Começamos com pouco mais de 30
escolas envolvidas, e depois o projeto passou a ser direcionado a criar
pelo menos um grupo de escoteiro em cada município do Rio Grande do
Norte”, disse Carlos Pinto, ex-presidente da UEB/RN, com seis anos de
mandato.
As escolas são previamente escolhidas pela Secretaria de Educação.
Após isso, funcionários da União dos Escoteiros, contratados pelo
convênio, vão às escolas fazer a sensibilização do corpo gestor e do
corpo docente para a criação da estrutura necessária para receber o
grupo aos finais de semana.
Entretanto, Ivan Nascimento reforça que os escoteiros também se
reúnem nos dias da semana, onde desenvolvem atividades sozinhos. “Eles
fazem tudo o que um jovem faz. Mas o importante é que eles se juntam
envolvidos por vários valores que são construídos ao longo da
permanência deles no grupo de escoteiros. São valores de fraternidade,
ajuda ao próximo, caráter, valores em querer sempre construir uma
sociedade cada vez melhor”, apontou o atual presidente.
“Agindo sob esses valores, certamente as drogas e álcool não os
atraem, preferindo estarem se divertindo como qualquer outra criança ou
jovem”, reforçou. O Lenço dos Escoteiros, objeto utilizado em volta do
pescoço é uma maneira de identificar alguma pessoa que atua no grupo.
“Mas, no dia a dia, a maior marca do grupo que eles carregam são os
valores”, disse.
No Rio Grande do Norte existem mais de 120 grupos de escoteiros
espalhados por todo o estado, estando presente em 83 municípios com
cerca de 10 mil crianças, jovens e adultos associados. Segundo lembrou
Carlos Pinto, a importância do convênio com o Governo do Estado reflete
no número de associados.
“Antes desse convênio com as escolas, o grupo tinha aproximadamente
1,3 mil associados. Hoje, com a chegada do projeto, aumentou o efetivo, e
somos o movimento que mais cresce no Brasil”, disse. Pioneiro entre
todos os estados do Brasil, o projeto Escotismo nas Escolas já está
tendo representações em outras regiões do país. Além de alcance nas
escolas públicas, o projeto também está sendo adotado por instituições
particulares, como no Colégio das Neves, Henrique Castriciano e
Contemporâneo.
“O Escotismo deve chegar a todas as classes sociais para que o jovem
tenha a opção de lazer sadia, onde ele pode se autoeducar com as
ferramentas que o nosso projeto pedagógico dispõe, como o campismo,
jogos pedagógicos, atividades comunitárias, trilhas. Várias atividades
desenvolvidas em grupo, como uma forma de combater o egoísmo e mostrar a
necessidade de uma pessoa estar sempre precisando da outra”, disse
Carlos.
Paara Ivan, o fato do Escotismo representar uma atividade
complementar à educação já é um grande ganho para as escolas. “O poder
público investe no Escotismo, o projeto chega às escolas – onde muitas
vezes os alunos não participam de todas as atividades – e acaba
motivando os jovens a serem mais participativos”, avaliou.
Necessidade de um espaço de atividades
Durante a entrevista concedida a O Jornal de Hoje, Ivan Nascimento
lamentou o fato da União dos Escoteiros no estado ainda não possuir um
espaço próprio para promoção de atividades do movimento. “Realizamos
esse trabalho há 96 anos no Rio Grande do Norte e não temos um espaço
nosso para promover as atividades nos finais de semana”, disse.
“Um presente que o ex-presidente Carlos Pinto deixou para a gente foi
o Centro Escoteiro da Juventude. Um espaço de 20 hectares em
Maxaranguape, onde realizaremos nosso sonho de ter um centro de
atividades voltado para a juventude”, afirmou. Entretanto, a UEB/RN não
tem como custear o pagamento do terreno, avaliado em R$ 300 mil, e a
construção do espaço.
“Há muitos outros movimentos de jovens que atuam na sociedade, mas o
diferencial do Escotismo é que tem objetividade, encontro fraternal com
regras, limites, diversão e educação. Por isso venho lutando há tantos
anos para garantir um local onde haja essa promoção saudável da
juventude”, disse Carlos Pinto.
A União dos Escoteiros está conclamando os antigos escoteiros e as
pessoas da sociedade que querem contribuir com trabalho do movimento
para fazerem doações em prol da concretização do Centro. “Estamos
precisando levantar um valor alto para pagar a área e por isso
precisamos da ajuda dos amigos escoteiros”, afirmou o ex-presidente.
Para realizar as doações, as pessoas podem depositar o dinheiro na Conta
Corrente: 32573-2 | Agência: 3525-4 Banco do Brasil, titular União dos
Escoteiros do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário