domingo, 14 de abril de 2013

Grupo de escoteiros recupera praça pública no Soledade I



Mutirão envolve 80 jovens que decidiram recuperar praça abandonada pela comunidade após crime que chocou vizinhança. Foto: José Aldenir

Durante todo o sábado (13), escoteiros do Rio Grande do Norte e de Pernambuco fazem um mutirão na Praça das Mangueiras, no conjunto Soledade I. Com o tema ‘Fim do Mundo: Sobrevivemos para Servir’, 80 jovens adotam a metodologia do jogo Oásis (tecnologia social adotada por ‘Guerreiros sem armas’ que atuam em parceria com a própria comunidade) para retirar entulho, pintar brinquedos, reformar bancos e plantar mudas de árvores nativas. Reuniões com moradores foram realizadas para definir a tática da ação, que envolve a ajuda da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) e verba da própria União dos Escoteiros do Brasil.
Seis meses atrás, a mesma praça foi palco de um crime que chocou a vizinhança. Dois jovens foram assassinados, após serem confundidos com marginais de um grupo rival dos criminosos (um terceiro ficou paraplégico). Foi o estopim para a população abandonar a área, o que abriu espaço para a ocupação noturna por viciados em drogas. “Tinha muito malandro aqui. Algumas noites, chegavam a ter uns 30″, diz Jean Carlos de Souza Rodrigues, auxiliar de mecânico casado com a tia de uma das vítimas. Ele mora há nove anos em uma casa diante da praça.
Hoje, segundo Jean Carlos, a realidade é outra. E a ação dos escoteiros tem tudo para transformar o local em um atrativo da região. “Aqui é bom para morar, só precisa de cuidado”. A intervenção comunitária ganha relevo ao contar com a participação dos principais beneficiados. De acordo com Bráulio André Dantas, funcionário da União dos Escoteiros do Brasil, “aqui foi o primeiro ponto de Natal que pensamos em fazer um trabalho este ano, e a acolhida foi imediata. Até o pároco abriu a Igreja para nos ajudar. Queremos criar um ambiente diferente, que não seja mais propício aos bandidos. Para isso, já solicitamos à Prefeitura que reforce a iluminação pública”.
Depois de chegarem ao conjunto Vale Dourado e no bairro do Planalto, o grupo de escoteiros escolheu o Soledade I por entender que as dificuldades urbanas enfrentadas na zona Norte são inúmeras, e que a presença do poder público é insuficiente. A jornalista Luiza de Sá, especialista em empreendedorismo social, tem larga experiência em ações semelhantes em outros estados brasileiros. Para ela, poder melhorar um espaço com potencial estético e gerar segurança para a população é o que norteia seu trabalho.
“Essa praça tem mais de 30 anos. Ela já teve seus altos e baixos. Após as mortes, houve uma fuga das pessoas, que ficaram com medo e deixaram de vir. Nossa presença aqui é para ocuparmos uma área degradada e dizer que o lugar é para diversão e lazer. Sei que vândalos podem jogar fora nosso trabalho em pouco tempo, mas contamos com os moradores na fiscalização”. Luiza foi uma das escoteiras que pagou R$ 50 para participar do mutirão – para quem veio de outras cidades e estados, o valor inclui alimentação e hospedagem no Caic de Candelária.
Munidos de pincéis, baldes, sacos plásticos e bom humor, os 80 escoteiros, com idades entre 18 e 21 anos, promoveram uma ‘revolução’ no aparelho público. “É um trabalho de formiguinha, com dedicação a uma causa que vemos com tristeza. Na verdade, se formos ver mesmo, Natal não tem praças. Tem descampados, não praças em seu pleno funcionamento. Sabemos que é difícil até mesmo para os moradores ficarem de olho, pois os marginais chegam de madrugada. Mas o que não dá é adotar o velho discurso que nada tem jeito e abandonar o local. Isso aqui é muito bonito para viver desse jeito”, conclui Luiza.

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