Durante todo o sábado (13), escoteiros do Rio Grande do Norte e de
Pernambuco fazem um mutirão na Praça das Mangueiras, no conjunto
Soledade I. Com o tema ‘Fim do Mundo: Sobrevivemos para Servir’, 80
jovens adotam a metodologia do jogo Oásis (tecnologia social adotada por
‘Guerreiros sem armas’ que atuam em parceria com a própria comunidade)
para retirar entulho, pintar brinquedos, reformar bancos e plantar mudas
de árvores nativas. Reuniões com moradores foram realizadas para
definir a tática da ação, que envolve a ajuda da Secretaria Municipal de
Serviços Urbanos (Semsur) e verba da própria União dos Escoteiros do
Brasil.
Seis meses atrás, a mesma praça foi palco de um crime que chocou a
vizinhança. Dois jovens foram assassinados, após serem confundidos com
marginais de um grupo rival dos criminosos (um terceiro ficou
paraplégico). Foi o estopim para a população abandonar a área, o que
abriu espaço para a ocupação noturna por viciados em drogas. “Tinha
muito malandro aqui. Algumas noites, chegavam a ter uns 30″, diz Jean
Carlos de Souza Rodrigues, auxiliar de mecânico casado com a tia de uma
das vítimas. Ele mora há nove anos em uma casa diante da praça.
Hoje, segundo Jean Carlos, a realidade é outra. E a ação dos
escoteiros tem tudo para transformar o local em um atrativo da região.
“Aqui é bom para morar, só precisa de cuidado”. A intervenção
comunitária ganha relevo ao contar com a participação dos principais
beneficiados. De acordo com Bráulio André Dantas, funcionário da União
dos Escoteiros do Brasil, “aqui foi o primeiro ponto de Natal que
pensamos em fazer um trabalho
este ano, e a acolhida foi imediata. Até o pároco abriu a Igreja para
nos ajudar. Queremos criar um ambiente diferente, que não seja mais
propício aos bandidos. Para isso, já solicitamos à Prefeitura que
reforce a iluminação pública”.
Depois de chegarem ao conjunto Vale Dourado e no bairro do Planalto, o
grupo de escoteiros escolheu o Soledade I por entender que as
dificuldades urbanas enfrentadas na zona Norte são inúmeras, e que a
presença do poder público é insuficiente. A jornalista Luiza de Sá,
especialista em empreendedorismo social, tem larga experiência em ações
semelhantes em outros estados brasileiros. Para ela, poder melhorar um
espaço com potencial estético e gerar segurança para a população é o que
norteia seu trabalho.
“Essa praça tem mais de 30 anos. Ela já teve seus altos e baixos.
Após as mortes, houve uma fuga das pessoas, que ficaram com medo e
deixaram de vir. Nossa presença aqui é para ocuparmos uma área degradada
e dizer que o lugar é para diversão e lazer. Sei que vândalos podem
jogar fora nosso trabalho em pouco tempo, mas contamos com os moradores
na fiscalização”. Luiza foi uma das escoteiras que pagou R$ 50 para
participar do mutirão – para quem veio de outras cidades e estados, o
valor inclui alimentação e hospedagem no Caic de Candelária.
Munidos de pincéis, baldes, sacos plásticos e bom humor, os 80
escoteiros, com idades entre 18 e 21 anos, promoveram uma ‘revolução’ no
aparelho público. “É um trabalho de formiguinha, com dedicação a uma
causa que vemos com tristeza. Na verdade, se formos ver mesmo, Natal não
tem praças. Tem descampados, não praças em seu pleno funcionamento.
Sabemos que é difícil até mesmo para os moradores ficarem de olho, pois
os marginais chegam de madrugada. Mas o que não dá é adotar o velho
discurso que nada tem jeito e abandonar o local. Isso aqui é muito
bonito para viver desse jeito”, conclui Luiza.